No cenário empresarial moçambicano, a realidade das crises cíclicas tem sido um desafio constante para as empresas. Como abordei num artigo anterior e no livro “Para uma gestão humanizada de pessoas”, o país enfrenta crises de forma periódica, com impactos económicos significativos que exigem adaptações estratégicas e contínuas.
Agora, diante da iminente nova crise, desencadeada pelas manifestações pós-eleitorais, as empresas veem-se novamente pressionadas a adaptar-se rapidamente para manter a sustentabilidade financeira e operacional.
Quando as manifestações começaram, nos círculos de discussão de temas relacionados com a gestão de recursos humanos, discutia-se se as empresas deviam pagar os ordenados referentes aos dias de falta por conta das manifestações.
Não se tendo encontrado nenhum fundamento legal válido para o não-pagamento, vincou o imperativo da manutenção das responsabilidades do empregador em benefício do colaborador.
No presente momento, em que as manifestações estão no seu auge, discute-se se as empresas (principalmente as micro, pequenas e médias) conseguirão continuar a honrar com as suas responsabilidades remuneratórias. E, por conseguinte, se conseguirão manter a massa laboral no curto e médio prazos.
Assim como durante a pandemia do COVID-19, a necessidade de reduzir os custos fixos e flexibilizar as estruturas de trabalho, surge como uma saída estratégica para a sobrevivência.
É aqui que pretendo introduzir o conceito de People Light, ou uma abordagem compacta de recursos humanos. Esta é uma das alternativas para as empresas que, dependendo do sector, ainda tenham condições para continuar as suas operações virtualmente ou de forma híbrida.
Este conceito aplica-se desde as micro às grandes empresas, quer em momentos de crise quer em períodos de estabilidade e crescimento.
A estratégia People Light propõe uma estrutura de trabalho mais reduzida, com equipas menores e uma maior flexibilidade na alocação de recursos. Isso envolve o uso de trabalhadores terceirizados ou a contratação de serviços via outsourcing, onde as empresas transferem parte das suas actividades para parceiros externos.
Este modelo reduz as obrigações decorrentes do trabalho e limita as despesas fixas associadas à contratação e manutenção de equipas completas com vínculo laboral permanente, para além de que oferece mão-de-obra a custos de mercado mais competitivos.
A experiência adquirida durante a crise do COVID-19 impulsionou muitas empresas a adoptarem o trabalho remoto e o outsourcing, diminuindo assim o peso, na estrutura de custos, das suas despesas fixas.
Agora, com a iminente necessidade de ajustar novamente os seus custos e as suas estruturas operacionais, as empresas que adoptarem o modelo People Light, podem enfrentar qualquer crise com menos vulnerabilidade a flutuações económicas.
Dessa forma, é possível manter operações essenciais, reduzir custos fixos e, ao mesmo tempo, adaptar-se a uma estrutura de pessoal flexível e ajustável, conforme necessário e de acordo com o sector de actividades de cada empresa.
O conceito de People Light transcende momentos de crise e afirma-se como uma estratégia moderna de gestão, que permite às organizações manter uma estrutura compacta e ágil, maximizando o foco nas actividades mais essenciais.
Em vez de operar com grandes equipas em todas as áreas, este modelo aposta na terceirização estratégica para optimizar recursos e fortalecer a flexibilidade organizacional. Em cenários de trabalho sazonal ou temporário, o People Light facilita a adaptação às flutuações naturais do mercado, possibilitando um redimensionamento mais rápido das equipas.
Dessa forma, as organizações podem concentrar as suas energias no seu core business, enquanto parceiros especializados executam as funções de suporte. Com uma estrutura simplificada, o People Light transforma-se num poderoso aliado estratégico.
Além da redução das despesas fixas, o People Light permite que as empresas diminuam os encargos de gestão de pessoal, passando a responsabilidade dos benefícios e algumas obrigações legais decorrentes do trabalho para empresas terceirizadas, que passam assim a assumir o risco, através da assinatura de contratos específicos e apropriados com os colaboradores.
Tal prática, minimiza os riscos associados à empregabilidade permanente e permite que as empresas ajustem as suas equipas de acordo com as solicitações do mercado, sem comprometer a qualidade e a continuidade das suas operações.
Implementar uma estratégia People Light exige planeamento e análise cuidadosa. Para organizações interessadas em adoptar esta abordagem, é essencial:
- 1. Avaliar as áreas de negócio onde o outsourcing pode ser aplicado de forma eficaz, preservando as actividades principais da empresa. Nesta análise, deverá também estar ciente das áreas centrais para a manutenção da cultura interna da organização;
- 2. Seleccionar parceiros de confiança, que possuam a certificação, experiência e a infraestrutura necessária para atender às necessidades da empresa;
- 3. Definir métricas de desempenho que garantam a qualidade dos serviços terceirizados e a adesão aos objectivos estratégicos da empresa.
Ao utilizar o outsourcing para funções administrativas, auxiliares ou de apoio, de BackOffice, as organizações podem concentrar-se no desenvolvimento das suas áreas centrais, mantendo a flexibilidade para expandir ou reduzir as operações conforme necessário e sem grandes constrangimentos.
O modelo People Light não apenas oferece uma solução pragmática para enfrentar as situações de crise, como a actual, bem como também prepara as organizações para o futuro, permitindo que se adaptem rapidamente a flutuações económicas. Com o recurso à terceirização (outsourcing), é possível reduzir os encargos do trabalho, transformando custos fixos em variáveis.
Vicente Sitoe
Executive Director | Partner
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